Forjar o corpo
saudável
Parte II
“O método é: treinar o que tem forma (músculos, tendões e
ossos) para serem os colaboradores daqueles sem forma
(qi); cultivar o que não tem
forma, para assistir o que tem forma.”
Yi Jin Jing
Na Parte I relatei como
a filosofia oriental entrou na minha vida e como as práticas chinesas passaram
a ser minha referência.
Como psicoterapeuta corporal,
naturalmente o corpo é um aspecto forte dentro das minhas atividades, de onde todas
as metáforas e símbolos atrelados a esse componente têm relevância.
Há uns séculos atrás o corpo era
visto como o símbolo da irracionalidade e da impulsividade, moradia dos
sentimentos e emoções, do profano e do caótico! Mas, hoje é a representação do
concreto, o que dá a base, o ground, a realidade, a estrutura, a terra, lugar onde
se encontram os aspectos arcaicos da história humana.
Como dizem: “O corpo pertence à mãe”, porque se estrutura a partir do contato
e das sensações geradas por essa experiência; o Eu se forma a partir do “ego corpóreo”.
E pensando nisso podemos afirmar que de
modo algum o corpo consegue estar desvinculado das suas nuances emocionais,
cognitivas, afetivas e relacionais.
Desde os primórdios, dentro de
todo seu processo evolutivo assim como na história individual de cada pessoa, o corpo busca um equilíbrio, até mesmo de maneira inconsciente. Compartilham
vários sistemas anatômico-funcionais que o mantém nessa harmonização, tanto na
estática como na dinâmica, de modo que a energia é transportada, num arranjo de
tensões, de forças antagônicas e complementares, que são transmitidas de
músculo para músculo, numa sequência coordenada; assim, o contorno humano é
“esculpido”. A propósito, fica mais claro e compreensível o significado
do yin e yang e suas relações.
Cada
corpo é um corpo, onde cada um tem inscrito a sua trajetória, a sua própria
história; é a psique materializada na forma de uma postura e atitude corporal.
Mas, da mesma maneira que há diferenças, existem as similaridades, e é a partir
delas que vamos conceber e reconhecer a individualidade. Não é interessante?! Novamente
o yin e o yang, opostos que se complementam.
E o que é Lian Gong em 18 terapias? É uma ginástica terapêutica chinesa que faz parte
do Wu Shu. O termo WU SHU significa “artes marciais” ou “artes da guerra” e
engloba todas as práticas corporais chinesas. E elas se dividem basicamente em
duas vertentes: uma que foca o aspecto físico no que se refere à harmonia e
saúde do corpo (Duros); e a segunda vertente que foca os aspectos internos,
dirigido ao Qi, a energia vital.
E
o Lian Gong em 18 terapias apesar de focar aspectos físicos, pois são exercícios
que agem no sistema músculo-esquelético, tem outras características que o
coloca entre uma vertente e outra; ele parte do físico para atingir outros
planos: o cognitivo, o motor, o energético, o emocional, o relacional. Sua
função não é eliminar a tensão, mas distribuí-la de modo que se transforme em
força, num processo de alquimia interno. É assim que se cria a harmonia,
fazendo com que o corpo funcione “economicamente” provocando uma sensação de
bem estar, pois os movimentos coordenados, organizados vão ganhando uma
estrutura flexível. Portanto, o Lian Gong tem uma função de cura porque seu
objetivo é prevenir e tratar das dores do corpo.
O
Lian Gong é formado por dois ideogramas (acima). O primeiro significa treinar,
exercitar, forjar, trabalhar; e o segundo (pronuncia Kung) trabalho
persistente, prolongado, adquirir alto nível de habilidade. Os dois juntos
podem ser traduzidos como: treinar para obter habilidade, para obter um
corpo saudável. A palavra que segue o ideograma Shi Ba Fa, quer
dizer em 18 Terapias, em 18 movimentos.
Dr. Zhuang Yuen Ming, médico ortopedista chinês, agregou os resultados de sua
atuação, como médico da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) há mais de 40 anos,
à sua herança milenar da cultura chinesa, dos antigos exercícios da arte
guerreira tradicionais, e projetou essa ginástica. O Lian Gong veio para
fazer uma ponte entre oriente e o ocidente, unindo a necessidade de alongar
o corpo com a de fazer a energia fluir.
Seu fim profilático e
terapêutico visa à
manutenção e aquisição da estabilidade funcional das estruturas
músculo-esqueléticas com objetivos, claros e definidos, de trabalhar cada parte
do corpo, não desconsiderando sua globalidade e de forma consciente. É
importante ressaltar que não se busca apenas eliminar o sintoma, mas a reeducação
postural e do movimento para eliminar a causa da dor.
Aliás,
ele foi projetado para ser utilizado também nos tratamentos com atendimentos
individuais, em grupo de alongamentos terapêuticos e de reeducação, como suporte
e manutenção para vários esportes ou atividades. É utilizado em grupos
empresariais por sua praticidade e possibilidade de adaptação que favorecem sua
aplicação.
No Brasil o Lian
Gong em 18 terapias chegou por volta dos anos 80. Em 1995, foi criado seu
Instituto Brasileiro. Desde então, a prática é cada vez mais abrangente e
atinge setores variados, sempre focando a melhora e a harmonização da vida das
pessoas.
Hoje já se vê uma
grande aceitação da técnica nas praças e parques de São Paulo além de outras
cidades, com o apoio da Prefeitura e da Secretaria do Meio Ambiente. Aliás, as
academias, as empresas, os postos de saúde e as escolas da rede pública e
particular adotaram essa atividade.
Pouca gente sabe
que o Lian Gong e algumas práticas orientais fazem parte do PNPIC – Plano Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS – 2006, 1ª
Edição Elaboração e distribuição: Ministério da Saúde
“..., cuja implementação
envolve justificativas de natureza política, técnica, econômica, social e
cultural. Esta política atende, sobretudo, à necessidade de se conhecer,
apoiar, incorporar e implementar experiências que já vêm sendo desenvolvidas na
rede pública de muitos municípios e estados, entre as quais destacam-se aquelas
no âmbito da Medicina Tradicional Chinesa - Acupuntura, da Homeopatia, da
Fitoterapia, da Medicina Antroposófica e do Termalismo-Crenoterapia
(Apresentação, pág. 4).... inclui ainda práticas corporais (Lian Gong, Chi
Gong, Tuiná, Tai Chi Chuan)...” (Introdução – Cap. 2 – 1.1 Medicina Tradicional
Chinesa e Acupuntura pág.15)
Stela Maria
Faggin
Verão/2012