CORPO: A MATERIALIZAÇÃO DO SER
“O psiquismo se constrói
com a estrutura corporal.
Se o esquema corporal não
passa pela consciência, ele é insuficiente.
Podemos ser mais
conscientes refletindo sobre os nossos gestos.”
Piret e Béziers
Piret e Béziers
As teorias do desenvolvimento do pensamento humano até os meados dos anos 60 se baseavam na dicotomia conceitual, que se refere à cisão entre corpo e mente.
“Penso,
logo existo” é a representação de todo um pensamento cartesiano. O homem se via como um ser superior, pois somente a razão era realmente o fator que o diferenciava das espécies
existentes, colocando-o no topo de uma hierarquia que ele mesmo criou entre os
seres vivos do planeta.
Adverso
à razão, o corpo era visto como símbolo da irracionalidade e da impulsividade, moradia dos sentimentos e emoções, do profano e do
caótico. O homem era ainda considerado apenas como um
ser mental, racional e pensante. Qualquer sentimento ou emoção era sinônimo de
fraqueza, falta da firmeza de caráter!
E nesse processo
“civilizador”, a humanidade teve que pagar um
preço alto no que se refere aos aspectos das relações humanas, pois tomaram um
ar de incorporiedade influenciando a ética e a moral vigentes.
Ainda
notamos reações adversas às atividades que possibilitem o contato ou expressão
do próprio corpo. As distorções, os pudores, a vergonha fazem parte de uma
maneira de pensar e viver a vida. Essa repressão de alguma maneira pesa sobre
os nossos corpos, com movimentos restritos, quase que paralisados dentro de
padrões castradores, punitivos, cheios de culpa, que alimentam tabus e
preconceitos, e que ainda assombram os nossos dias!
Com o advento de novos movimentos
filosóficos e psicológicos outros caminhos foram surgindo, como uma ajuda na
busca pela reconquista da essência da
espécie humana. Era como uma saída para a sensação de um aprisionamento
interno!
Não podemos
desconsiderar que as idéias baseadas no empirismo, as teorias mecanicistas,
ajudaram no desenvolvimento da tecnologia e que com certeza vieram facilitar a
vida do homem. Mas, ao mesmo tempo, a modernidade foi permitindo um distanciamento
cada vez maior do ser corpóreo. E o “culto ao corpo” se resume em dar mais
importância ao parecer do que ao ser! Criam-se padrões de beleza que na maioria das
vezes não são sinônimos de saúde.
Qual é o resultado
disso tudo? Observamos que com o passar dos anos o número de pessoas com “dores no corpo” aumentou
significativamente. Cada vez nos defrontamos com problemas articulares ou motores,
cujas causas são inúmeras, mas as principais se devem ao sedentarismo e ao uso
inadequado que se faz do próprio corpo.
Hoje é muito comum que médicos e terapeutas de uma maneira geral,
além de soluções medicamentosas, indiquem atividades físicas para vários tipos
de lesões e patologias. Porém, não podemos dar soluções paliativas para o
alívio da dor. As atividades com movimento são os mais eficazes, mas com
consciência, percepção de si mesmo para que, além de não prejudicar,
possibilitem resultados permanentes. Um bom trabalho físico deve criar
agilidade, destreza e funcionalidade. Por isso podemos dizer que desenvolver o
movimento natural é criar prazer nos gestos cotidianos.
A filosofia oriental vem resgatar, através de um olhar
apaziguador, a integração dos aspectos físicos, emocionais e espirituais,
restabelecendo uma harmonização dos nossos sistemas no que diz respeito à
própria natureza de ser no mundo.
Stela
Maria Faggin
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