quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

CORPO: A MATERIALIZAÇÃO DO SER            
“O psiquismo se constrói com a estrutura corporal.
Se o esquema corporal não passa pela consciência, ele é insuficiente.
Podemos ser mais conscientes refletindo sobre os nossos gestos.”
Piret e Béziers
 
            As  teorias do desenvolvimento do pensamento humano até os meados dos anos 60 se baseavam na dicotomia conceitual, que se refere à cisão entre corpo e mente.
“Penso, logo existo” é a representação de todo um pensamento cartesiano. O homem se via como um ser superior, pois somente a razão era realmente o fator que o diferenciava das espécies existentes, colocando-o no topo de uma hierarquia que ele mesmo criou entre os seres vivos do planeta.
 Adverso à razão, o corpo era visto como símbolo da irracionalidade e da impulsividade, moradia dos sentimentos e emoções, do profano e do caótico. O homem era ainda considerado apenas como um ser mental, racional e pensante. Qualquer sentimento ou emoção era sinônimo de fraqueza, falta da firmeza de caráter!
E nesse processo “civilizador”, a humanidade teve que pagar um preço alto no que se refere aos aspectos das relações humanas, pois tomaram um ar de incorporiedade influenciando a ética e a moral vigentes.
Ainda notamos reações adversas às atividades que possibilitem o contato ou expressão do próprio corpo. As distorções, os pudores, a vergonha fazem parte de uma maneira de pensar e viver a vida. Essa repressão de alguma maneira pesa sobre os nossos corpos, com movimentos restritos, quase que paralisados dentro de padrões castradores, punitivos, cheios de culpa, que alimentam tabus e preconceitos, e que ainda assombram os nossos dias! 
Com o advento de novos movimentos filosóficos e psicológicos outros caminhos foram surgindo, como uma ajuda na busca pela reconquista da essência da espécie humana. Era como uma saída para a sensação de um aprisionamento interno!
Não podemos desconsiderar que as idéias baseadas no empirismo, as teorias mecanicistas, ajudaram no desenvolvimento da tecnologia e que com certeza vieram facilitar a vida do homem. Mas, ao mesmo tempo, a modernidade foi permitindo um distanciamento cada vez maior do ser corpóreo. E o “culto ao corpo” se resume em dar mais importância ao parecer do que ao ser!  Criam-se padrões de beleza que na maioria das vezes não são sinônimos de saúde.
Qual é o resultado disso tudo? Observamos que com o passar dos anos o número de pessoas com “dores no corpo” aumentou significativamente. Cada vez nos defrontamos com problemas articulares ou motores, cujas causas são inúmeras, mas as principais se devem ao sedentarismo e ao uso inadequado que se faz do próprio corpo.
Hoje é muito comum que médicos e terapeutas de uma maneira geral, além de soluções medicamentosas, indiquem atividades físicas para vários tipos de lesões e patologias. Porém, não podemos dar soluções paliativas para o alívio da dor. As atividades com movimento são os mais eficazes, mas com consciência, percepção de si mesmo para que, além de não prejudicar, possibilitem resultados permanentes. Um bom trabalho físico deve criar agilidade, destreza e funcionalidade. Por isso podemos dizer que desenvolver o movimento natural é criar prazer nos gestos cotidianos.
A filosofia oriental vem resgatar, através de um olhar apaziguador, a integração dos aspectos físicos, emocionais e espirituais, restabelecendo uma harmonização dos nossos sistemas no que diz respeito à própria natureza de ser no mundo. 
Stela Maria Faggin


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