quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Resumo das atividades Carnaval 2013


Chamada para as oficinas "O prazer no sentir"


 
 
 
 
Parte I
“A descoberta do caminho”
 “...cada pessoa tem, como uma casa, alguma porta de entrada; só precisamos descobrir qual está aberta para dar ‘boas vindas’ !”         
                                                                                                                              Stela Maria Faggin
                   Nos anos 80 fui convidada a participar de uma aula de Tai Chi; uma amiga de infância, que não via há anos, me contou que estava participando das aulas no bairro do Itaim (SP), muito próximo ao meu consultório na época. Elas aconteciam num salão de uma igreja católica chinesa. Não tinha erro, era só entrar e participar das aulas. As práticas começavam bem cedo; eu tinha que estar lá entre 6h e 6:30h. Relutei a princípio, mas estava atrás de uma prática que me trouxesse algo de novo!
                        Nessa época já era graduada em Psicologia e a base da minha formação estava diretamente ligada às práticas corporais. Já atuava como Psicomotricista, Reeducadora e Psicoterapeuta Corporal (com especialização em Reich) e, invariavelmente, me interessavam vivências em que o foco fosse o corpo!
                        Voltando... Na semana seguinte fui ao local e, pelo silêncio, pensei que estava ou extremamente atrasada ou no lugar errado, mas tinha um aviso indicando. Abri a porta de um enorme salão e, para minha surpresa me deparei com um número inacreditável de pessoas exercitando o Tai Chi. E fiquei ali, parada, com a sensação e a certeza que tinha chegado ao lugar certo. O mestre era o Pai Lin, Mestre Liu e no grupo em que fui colocada, a orientadora era Maria Lúcia Lee. Presente dos deuses!
                        Assim foi que comecei a trilhar o caminho pelas estradas na cultura oriental. Essa frase pode parecer redundante, já que Tao é traduzido como “caminho” ou “o caminho”, e muito mais que isso, pode ser traduzido como “destino”, “natureza essencial” ou “caminho verdadeiro”; e tenho consciência hoje que foi bem isso o que aconteceu comigo.
                        As questões éticas do Tao se baseiam em três princípios: compaixão, moderação e humildade; e o pensamento taoista está ligado na busca da harmonização com a natureza para ter saúde e atingir a longevidade. Todas as expressões culturais chinesas como a astrologia, a culinária, a escrita, a pintura, as artes marciais, as ginásticas, os qi gongs, a medicina, a arquitetura, o feng shui têm como essência a filosofia taoista.
                        Dessa forma quando se decide dedicar-se a essas artes, não tem como fazê-lo sem uma identificação direta. Significa trazer para a rotina, para cotidiano, incorporar a filosofia que parte do trabalho na estrutura para chegar à essência, pois o princípio é unidade.
                        Até aquele momento eu pensava que conhecia meu corpo, que sabia o que era energia. Minha energia ficava apenas concentrada na cabeça, no cognitivo, no pensamento; apesar de inúmeros workshops, cursos, vivências e terapias, eu descobri que só tinha era muita informação a respeito.
                        Assim comecei com as aulas. Eram três vezes por semana: dois dias de práticas intensivas e um para escutar, aprender e treinar com Pai Lin. Era o dia em que o Mestre dissertava sobre algum tema. Lembro que sentávamos todos no chão a sua volta e que suas palavras penetravam direto na minha alma.
            E, na medida em que eu evoluía nesse processo, brotavam sensações que despertava minha memória corporal e traziam lembranças, ao mesmo tempo em que eu tinha a percepção da sinergia do meu corpo, a tal “energia vital”- Qi - que se manifestava de maneira tão natural, tão fluida, numa leveza que pude nesse momento começar a compreender o que significa o Tao e toda teoria sobre o Yin e Yang. Eu começava a ter a percepção da unidade do MEU SER.
                        Essas experiências, vivências e práticas me deram o que eu carecia: integrar essa minha parte “mentalmente saudável” – intelectual, racional, pensamento - àquela que eu disponha com tanta disponibilidade, meu corpo.
            Numa mesma proporção essa alquimia interna se refletiu pelo meu ser integralmente. Os exercícios fortaleciam dando estrutura, de forma persistente, com sabedoria e criatividade! E isso se expandiu em todos os planos: a partir do físico, em cada movimento ou ação, e consequentemente no meu comportamento, minhas atitudes e decisões, nas minhas relações pessoais e na minha vida profissional, e fortaleceu meus valores. A minha porta estava aberta!
                        Passei a estudar e realizar vários cursos dentro da visão chinesa, e nesse trajeto, lá pelos anos 90, reencontrei Maria Lúcia Lee e Jeanne Kuk, quando então fiz a formação e participei como aluna na criação do “Instituto Brasileiro de Lian Gong em 18 terapias”.
                        Nos próximos textos vou expor o que é o Lian Gong em 18 terapias
, sua história, no que consiste, quais suas funções, ações e benefícios.
 
“Com o coração correto, o ser é cultivado;
quando o ser é cultivado, a família é harmonizada;
com a família em harmonia, a nação é ordenada;
com a nação ordenada, há paz sob o céu.”
Confúcio, 551 – 479 a. C. 
 
SP/jan/2012      
 
 
 
 

CORPO: A MATERIALIZAÇÃO DO SER            
“O psiquismo se constrói com a estrutura corporal.
Se o esquema corporal não passa pela consciência, ele é insuficiente.
Podemos ser mais conscientes refletindo sobre os nossos gestos.”
Piret e Béziers
 
            As  teorias do desenvolvimento do pensamento humano até os meados dos anos 60 se baseavam na dicotomia conceitual, que se refere à cisão entre corpo e mente.
“Penso, logo existo” é a representação de todo um pensamento cartesiano. O homem se via como um ser superior, pois somente a razão era realmente o fator que o diferenciava das espécies existentes, colocando-o no topo de uma hierarquia que ele mesmo criou entre os seres vivos do planeta.
 Adverso à razão, o corpo era visto como símbolo da irracionalidade e da impulsividade, moradia dos sentimentos e emoções, do profano e do caótico. O homem era ainda considerado apenas como um ser mental, racional e pensante. Qualquer sentimento ou emoção era sinônimo de fraqueza, falta da firmeza de caráter!
E nesse processo “civilizador”, a humanidade teve que pagar um preço alto no que se refere aos aspectos das relações humanas, pois tomaram um ar de incorporiedade influenciando a ética e a moral vigentes.
Ainda notamos reações adversas às atividades que possibilitem o contato ou expressão do próprio corpo. As distorções, os pudores, a vergonha fazem parte de uma maneira de pensar e viver a vida. Essa repressão de alguma maneira pesa sobre os nossos corpos, com movimentos restritos, quase que paralisados dentro de padrões castradores, punitivos, cheios de culpa, que alimentam tabus e preconceitos, e que ainda assombram os nossos dias! 
Com o advento de novos movimentos filosóficos e psicológicos outros caminhos foram surgindo, como uma ajuda na busca pela reconquista da essência da espécie humana. Era como uma saída para a sensação de um aprisionamento interno!
Não podemos desconsiderar que as idéias baseadas no empirismo, as teorias mecanicistas, ajudaram no desenvolvimento da tecnologia e que com certeza vieram facilitar a vida do homem. Mas, ao mesmo tempo, a modernidade foi permitindo um distanciamento cada vez maior do ser corpóreo. E o “culto ao corpo” se resume em dar mais importância ao parecer do que ao ser!  Criam-se padrões de beleza que na maioria das vezes não são sinônimos de saúde.
Qual é o resultado disso tudo? Observamos que com o passar dos anos o número de pessoas com “dores no corpo” aumentou significativamente. Cada vez nos defrontamos com problemas articulares ou motores, cujas causas são inúmeras, mas as principais se devem ao sedentarismo e ao uso inadequado que se faz do próprio corpo.
Hoje é muito comum que médicos e terapeutas de uma maneira geral, além de soluções medicamentosas, indiquem atividades físicas para vários tipos de lesões e patologias. Porém, não podemos dar soluções paliativas para o alívio da dor. As atividades com movimento são os mais eficazes, mas com consciência, percepção de si mesmo para que, além de não prejudicar, possibilitem resultados permanentes. Um bom trabalho físico deve criar agilidade, destreza e funcionalidade. Por isso podemos dizer que desenvolver o movimento natural é criar prazer nos gestos cotidianos.
A filosofia oriental vem resgatar, através de um olhar apaziguador, a integração dos aspectos físicos, emocionais e espirituais, restabelecendo uma harmonização dos nossos sistemas no que diz respeito à própria natureza de ser no mundo. 
Stela Maria Faggin